Rallentando
Tânia Nijmeijer é universitária holandesa de classe
média em permanente crise existencial. Infeliz consigo mesma, com seus pais,
com a frivolidade dos coleguinhas na univer, com o conforto abjeto que seu país
civilizado lhe oferece praticamente de mão beijada, belo dia resolve fazer “algo”.
É preciso mudar o mundo, ideiazinha que alucina 9 entre 10 almas torturadas de
jovencitos burgueses acometidos de gaucherie congênita. Outro belo dia, Tânia
sai a viajar pelo mundo. Ao passar pela Colômbia, se toma de encanto pela
miséria profunda do lugar. A grotesquerie dos nativos a fascina. O olhar vazio
das crianças a cativa. “Algo” lhe diz em seu “íntimo” que ali está a solução
para suas angústias kierkgaardianas de europeiazinha xarope. Next minute Tânia
se deixa recrutar pela narcoguerrilha das FARC.
Isso foi há nove anos. Há quatro, o
exército colombiano achou o diário da moça. A certa altura ela escreve: “Estoy
harta. No aguanto
más esta forma de vida.” Um jornal colombiano
menciona a jovem “magra, de cabelos loiros, dentadura perfeita e sempre com um
relicário ao pescoço com a fotografia da mãe”.
Se lê em seus escritos que, ao contrário do que ela
própria e seus amiguinhos europeus imaginavam, os narcotraficantes não lutam
pela liberdade porra nenhuma. Diz que as FARC são um presídio em que os
comandantes têm e podem tudo e os “soldados” são tratados a porrete. Que
guerrilheiros e guerrilheiras fazem sexo sem proteção, caindo enfermos de
doenças venéreas, aids, o cacete.
Tânia quer dar o fora. Não pode, lirarirará. Passou
ao status de sequestrada. Dizem na mídia que, agora que seu diário foi
devassado publicamente, é muito provável que ela seja “julgada” e condenada por
um tribunal “revolucionário”. Pobrecita.
Foi por esse tipo de ilusão que Tânia largou a
família e o quasiparaíso. É de imaginar ...que após os 4 mil anos da luta
civilizatória europeia que nos levou ao que mais próximo podemos almejar da
perfeição tem gente que se decide pelo padecimento autoimolante. Tânia se
rebelou contra o único socialismo possível com que aqueles paisitos sacais
conseguiram trocar a miséria e a doença e a feiura por um mínimo de controle da
indômita natureza do ser humano e capacidade de convivência.
Tânia (ou “Tanja” como quer o Estadão, por que será?
de onde veio a ideia de que nome de gente não se traduz não sei, como também não
sei por que tradutores acham que têm algo de sagrado e aportuguesá-los seria
vandalismo, há poucas coisas duras de aturar como a heroína de nome raquel do
filme americano que os outros personagens ficam o tempo todo chamano "Ruêikel,
me passa a manteiga de amendoim!”, prova suprema da nossa incivilidade, se
por milagre a cultura holliudiana nos abandonasse, deixaria um vácuo irreocupável,
teríamos de ralar mais 2 mil anos pra achar o que pôr no lugar) Nijmeijer,
parente do nosso dinossauro-mor Niemáier?, 24 frescos aninhos nas costas,
deixou a barra pesadérrima da vidinha na Holanda, o país mais civilizado do
mundo com seus coffeeshops em que o freguês puxa fumo e sorve magic mushrooms
sem ter um peême do lado te extorquindo, a Amsterdã dos canais oníricos, a
salada inefável de modernidade e gente bonita e saudável sob a sombra não turva
de prédios medievais contando a história ao vivo, nas ruas gente brincando de
estátua viva e cantores e músicos e atores, a miríade de museus, os melhores,
lirará, a casa de Rembrandt, o museu de Van Gogh, o único país do mundo em que
a legalização da eutanásia é discutida e, quase, praticada a sério,
estrangeiros à parte, sem que o estado se intrometa muito além do devido, o que
per se é ótima razão pra nascer naquelas bandas, o único problema filosófico
existente é o suicídio, já dizia o ...espoleta Camus, cujo problema particular
foi solucionado à sua revelia quando esticou as canelas naquela curva, sentado
ao lado do filho do dono da Gallimard, a única liberdade importante é a de
acabar com a própria vida, diria eu se vivesse longe, razoavelmente longe do
peetismo que me enoja e 'smorece, a Holanda da sexualidade enfim trazida ao
foro individual, maior liberdade não haverá de haver, os fumos da erva de boa
qualidade se espalhando pelos confins da cidade, o bairro da luz vermelha,
prostituição elevada a atração turística, as melhores casas do ramo, sexshops
exibindo objetos que você custa a crer sirvam pra qualquer coisa útil na cama,
mulheres se exibindo nas vitrines para espanto e deleite das famílias de
forasteiros, acima de tudo, no ar, o perfume inebriante da liberdade, a crença
de que cada um, cada um de nós, deles, sabe e tem o direito de saber onde mete
o nariz sem que uma otoridade te desça o cacete no meio da orelha, o país em
que ninguém está preocupado com a vida alheia, ó benção.
Tânia Nijmeijer vai ver é do tipo de gente fina que
não tem vocação para tolerar a liberdade individual. Parece que é uma
deformação mental que ataca 78 por cento da humanidade. Os outros 43 são ou
tentam ser livres.
Há uma porrada de outros europeus na mesma situação
de Tânia na Colômbia, cativos de meliantes boçais metidos a reformadores do
mundo, adolescentes impúberes quase todos “fugidos” da terra dos moinhos ou dos
países nórdicos, campeões no quesito suicídio de jovens enfarados com o estado
do bem-estar social. A petizada se deixa engambelar por ONG's criadas e
financiadas pelas FARC com grana obtida com a produção e venda de coca.
“Eu sei que mamãe e papai devem estar
sofrendo uma barbaridade”, se lê no diário.
Podes crer,
baby girl.