Como dar uma caixinha ao bloguero

Não sabemos se você sabe, mas o bloguero não ganha lhufas pelos lindos textos que posta regularmente neste blog. Antes de reclamar sobre esta página de mendicância descarada, olhe para aquele melancólico, meigo e barbado rostinho estampado na página principal. Sendo um marmanjão à-toa e pinguço sem-vergonha, tem muitas contas a pagar no fim de cada mês. Principalmente no buteco na esquina perto de onde mora. Onde passa longos dias e efêmeras noites.

Seu turno diurno (com perdão da rima) em sua mesa do buteco se inicia lá pelas 10, 11 da matina, em geral cuma kaipiroska com muito limão e apenas uns 3 dedos de vodka, que é pra assentar o estômago. E, claro, uma garrafa (enfatizamos: garrafa, pois o gajo não tolera latinhas) de Brahma (também não aceita outras marcas). Depois de almoçar um ou dois baurus sem queijo e com muita cebola e tomate ressecados depois de um mês no refrigerador asqueroso do buteco, segue nessa dieta etílica até as 17 horas, i.e, o happy-hour, que indica o término do diurno e começa o do turno noturno. Então passa para uns copinhos de steinhäger ultragelado entremeados de Balla, de preferência 12 (a critério do Lacerda, dono do buteco, que pode ou não pôr na conta dependendo do humor com que acordou no dia). E assim prossegue o bloguero em seu turno da noite, até perder os sentidos e desabar o cabeção na mesa. (É por isso que sempre mantém copos e garrafas bem afastados do raio de ação de sua testa.)

Imaginamos que a esta altura você deva estar se perguntando: e daí, que é que eu tenho a ver com isso?

Bem, talvez você não tenha mesmo nada a ver com os hábitos alcoólicos do rapaz. Mas saiba que é entre um gole e outro que ele vai rabiscando as bobagens que depois sua doce amiga, amante, lavadeira e digitadora Soninha passa no computador e sobe para o blog.

Imaginamos também que você esteja pensando, Ah, até eu queria ter um "trabalho" como esse!

Mas é aí que o prezado leitor se engana.

Veja, reconhecemos que o bloguero bebe por prazer, compulsão e desgosto de viver, como todo manguaceiro que se preze. Mas esses não são os únicos motivos. Na verdade, o coitado é incapaz de verter uma linha que seja se estiver de cara. Ou seja, se não beber, não escreve. E se não escreve, o blog já era.

E não é só. Sua lide na mesa no canto mais sombrio do buteco não se resume a manipular folhas de rascunho e copos. O que prejudica no duro seu fígado que a voluptuosa, incessante ingestão dessa variedade insana de destilados e fermentados é a presença de dezenas de outros bebuns ao seu redor e o indefectível, nauseabundo aparelho de tevê de plasma com que donos de bar por todo o País pretendem estimular o consumo de seus fregueses. Cá pra nós: se você acha fácil escrever um blog totalmente bêbado ao lado de 20 outros paus-d'água sob os berros histéricos do Ratinho, então jogamos a toalha. Você é mão-de-vaca acima da concepção humana.

Mas sabe o que é pior? Não, você não sabe. O pior é que dias há em que o pobre-diabo ainda é obrigado a escutar reclamações de seus bissextos leitores. Pode? Falando sério, não seria o caso de perguntarmos o que é que eles querem dum miserável mourejando sob tão crueis condições de insalubridade?

Seja sincero: você sonegaria uma gorjetinha a um bastardo que se esfola assim com o exclusivo, o solitário propósito de lhe proporcionar DE GRAÇA esta gratificante experiência estética online só batida pela orkut?

Pois, veja de novo, este blog é um verdadeiro tudo-em-um. Aqui o freguês encontra poesia de seleta bisonhice e prosa claudicante sem equivalente no mercado. Tudo muito afetado e pedante, com abundante, pitoresca, constrangedora adjetivação e infindável penca de supérfluos advérbios. Como se ainda fosse pouco, o exigente navegante pode desfrutar de variada coleção de taras, manias e neuroses, incluindo um dono de buteco que violenta a própria filha desde os 7 anos de idade (dela) e que atualmente, aos tenros 17, virou namoradinha do protagonista-autor depois que este levou um pé bem dado de sua esposa Sílvia por quem ainda morre e sempre morrerá de amores e mama sofregamente suas biritas para tentar esquecer, protagonista-autor que nos fins de semana está empregado no açougue de uns de seus amigos homossexuais porém não efeminados onde dá risíveis cantadas em senhoras de terceira idade em busca de contrafilé com pouco sebo.

Se mesmo assim você ainda estiver insatisfeito com os serviços aqui ofertados, que tal enviar um email à gerência do buteco explicando a situação em vez de simplesmente dar as costas pra nunca mais voltar?

Em vista do acima exposto, duvidamos que o estimado leitor seja incapaz de morrer cuns trocados para que o pobre-diabo leve adiante este inglório blog. Vamos lá, é impossível que você não tenha um ou dois reais no fundo de algum bolso ou daquele trambolho que sua mulher carrega pra cima e pra baixo à guisa de bolsa, ou mesmo umas moedinhas sobradas da feira da patroa. Se a situação estiver de fato grave, sugerimos que não hesite em passar ligeiramente a mão no cofrinho das crianças. Afinal não vai fazer falta, vai? Em último caso, aceitamos cartão de crédito. Ou contate a gerência para informar-se sobre outras formas de pagamento.

Bem, caríssimo leitor, isso é tudo. Agradecemos a paciência com que nos brindou até aqui. E não se esqueça: um bloguero duro hoje pode ser um motoboy ou servente frustrado amanhã. Além do mais, visto sermos o maior país católico do mundo, sempre é bom fazer uma média com o Big Guy que mora lá em cima além das nuvens. Como você sabe, Ele recompensa os que sabem demonstrar gratidão.

Até a próxima e gratos pela preferência.

Um comentário:

  1. Já sinto minha cabeça rodar, as coisas começam a perder sua forma. Estarei eu próprio bêbado? Sim, pelo efeito não do álcool, mas devido ao altíssimo teor intra-ultra-hiper-realista das suas palavras.

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