Não sei o que estou fazendo

Para Rose Colaneri

Vá lá. Deus deixou Ludwig fazer a Quinta.

Quando escutou os primeiros acordes da Sétima, deu uma Porrada na mesa:

— Assim não dá!

E Lud perdeu o que lhe restava da capacidade de audição.

— Quer dizer que agora é surdez total, é? — crispou o punho esquerdo na direção do céu, blasfemando.

Foi assim que brotou aquela penca de sonatas inomináveis nas semanas seguintes.

Não deu outra. Deus ficou Putaço. Já aguentara demais da conta do enxerido do João Sebastião. Como se ainda fora pouco, em seguida apareceu aquele moleque, o Amadeus. Assim, nem deus!

Precisava tomar cuidado com o tal de Lud. A musiquinha dele levava todo jeito de ficar... incontrolável, se um dia chegasse aonde parecia poder chegar.

Deus então teve um calafrio divino (a esta altura da tecnologia ainda não sabemos se deus é dado a epifanias. Se for, credo!)

Temeu pela sanidade dos homens. (Tanto trabalho pra criar essa raça de delinquentes, tanto trabalho pra tomar conta desse bando de safados!)

Temeu até pela Sua Própria!

Então o mais selvagem dos sons se fez ouvir em meio às nuvens.

— Que Merda é essa? — Deus não conseguiu conter o Palavrão. — Estarei sofrendo de alucinações auditivas?

(Por um segundo teve medo de que as blasfêmias de Ludwig tinham se concretizado.)

(Não ousou assumir nem pensamento que Seu maior temor era não poder mais escutar a música daquele malcriado...)

O som estranho se intensificou.

— Que sinfonia é essa c'um coral no meio?

O Chefão começou a suar frio. Receou pela Hecatombe. O mundinho chinfrim que acabara de construir há apenas cem bilhões de anos — tão novo ainda! — certamente não aguentaria o Tranco.

— Essa tal de Nona, nem Eu encaro! Meu Deus, digo, Eu Mesmo, como é que fica Minha Imagem Pública perante os anjos e toda a trempa dos santos?